A rainha de Sabá e o Eunuco

1 Reis 10; Atos 8

 

Essas duas narrativas, contidas em partes tão diferentes da Palavra, trazem à tona verdades que são tão importantes e preciosas hoje quanto eram nos dias dos reis e dos apóstolos. O mesmo estado moral do coração é encontrado tanto na rainha de Sabá quanto no eunuco. Para ambos, as melhores coisas, que estão abundantemente disponíveis para eles, não são mais suficientes. Portanto, ambos estão preparados para receber a paz e a plenitude de Cristo, que são reveladas em glória para uma alma e em graça para a outra.


Todas as honras reais foram concedidas à rainha de Sabá. Todos os prazeres dos filhos dos homens estavam sob seu comando, e ela também possuía a saúde e a capacidade de desfrutá-los. O mundo estava à sua disposição, mas o mundo havia deixado seu coração insatisfeito. Ela estava cheia de necessidades insatisfeitas, e a pompa real não lhe dizia nada.


Em sua insatisfação, ela empreendeu uma longa e perigosa jornada desde os confins da Terra até Jerusalém. Ela tinha ouvido falar da sabedoria do rei que reinava ali; "a fama de Salomão, acerca do nome do SENHOR" a havia alcançado.


Quando chegou à cidade real, ela encontrou muito mais do que esperava. "Ela ficou fora de si"; seus olhos viram coisas que a cativaram completamente e a encheram de uma alegria inexprimível e glorificada. Cristo estava lá! Pois naqueles dias Salomão era um modelo de Cristo e um reflexo de Seu esplendor. Assim, a rainha entrou em comunhão, por assim dizer, com Cristo em Sua glória na cidade do grande Rei. O mundo havia deixado um vazio doloroso em seu coração, mas agora Cristo o preenchia até transbordar. Ele se tornou de maior valor para ela do que o ouro, a prata e todas as riquezas. Pois nEle ela encontrou a resposta para todas as suas perguntas. Sua alma ficou satisfeita e seus olhos puderam contemplar uma glória que corresponde à glória de Deus. Ela ofereceu como sacrifício de sua gratidão o ouro, as especiarias e as pedras preciosas, todas as riquezas de seu reino. -


O eunuco era um homem poderoso na corte de Candace, rainha dos etíopes. Ele também já havia percebido há muito tempo, se assim podemos dizer, a vaidade das coisas no mundo. Elas não eram mais suficientes para ele. Ele nos aparece como alguém que, por si mesmo, "jogou os ídolos de seu país para as toupeiras e morcegos" a fim de professar o nome do Deus de Israel. Para obedecer a essa fé, ele foi a Jerusalém, onde o Deus de Israel era adorado.


Ele tinha ido como um adorador, mas se viu enganado em suas expectativas. Houve um contraste impressionante com a experiência da rainha de Sabá. Enquanto ela encontrou em Jerusalém uma resposta completa para o anseio de sua alma, o eunuco foi embora com o coração faminto e sedento.


Por quê? Qual foi a razão para que essas duas viagens não levassem ao mesmo resultado? - Porque, nos dias do eunuco, Cristo não podia ser encontrado na adoração dos judeus, como era o caso nos dias da rainha de Sabá. Jerusalém não era mais o lugar onde o Rei da glória podia ser visto em Sua beleza, onde tudo falava Dele e onde se viam os vestígios de Sua presença e Sua grandeza. Essa cidade não se assemelhava mais à Montanha da Transfiguração. Ele encontrou entre os judeus apenas uma religiosidade exterior, apenas formas e cerimônias de uma adoração carnal, a organização de um santuário terrestre, mas não a presença do Cristo de Deus. Essa tremenda diferença torna compreensível o fato de o eunuco ter saído triste e desapontado dessa cidade, na qual a rainha de Sabá havia se enchido de uma alegria tão transbordante.


Mas o coração do eunuco deveria ser satisfeito e preenchido com Cristo na mesma fonte, com a diferença de que o Senhor fez isso por meio do profeta Isaías e não de Salomão. Filipe, o servo e testemunha do Senhor, foi instruído pelo anjo a ir até a estrada deserta pela qual o eunuco estava voltando. Ele o encontrou ocupado apenas com um objeto e tão absorto nele que nem mesmo esse estranho encontro no deserto poderia distraí-lo. Uma nova afeição havia tomado conta de seu coração. Uma nova afeição havia se apossado de sua alma e superava tudo o mais. Ele leu com grande interesse interior o profeta Isaías, e o Espírito de Deus estava agindo em seu coração. Em poucos instantes, Cristo se revelaria a ele e encheria sua alma ansiosa de alegria. Ricas fontes de água estavam se preparando para brotar e regar a terra sedenta.


"Então, Filipe, abrindo a boca e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus." Logo depois, o eunuco seguiu seu caminho "com alegria", como a rainha de Sabá. O ouro e as pedras preciosas já haviam perdido seu brilho para aquela alma diante da sabedoria de Salomão, e ela trocou de bom grado os tesouros de seu reino pelas riquezas espirituais. Assim também o eunuco pôde se separar de Filipe. Sua alma está cheia da alegria do Senhor, e ele possui o Cristo de Deus que a rainha conhecia apenas como modelo. -


Com essas belas ilustrações de verdades importantes e relacionadas, vejamos também algumas diferenças. O mundo, em todo o seu esplendor real, havia deixado vazio o coração da Rainha, que podia dispor de tudo. Já com o poderoso etíope, a religiosidade de Jerusalém, a cidade de adoração solene, não foi capaz de satisfazer o coração desse buscador de Deus. Tanto a pompa do mundo quanto a religião do mundo são decepcionantes. O coração sem Jesus é vazio e miserável.


Outra diferença: a rainha de Sabá veio a conhecer Cristo em Sua glória, mas o eunuco conheceu Cristo na graça e em Sua humilhação. Salomão é uma ilustração do Rei em Sua beleza, enquanto Isaías, em quem o eunuco leu, mostra o Cordeiro cujo sangue é derramado, e cada uma dessas revelações corresponde tão completamente às aspirações de um coração desperto. No dia da graça e da salvação, Cristo se inclina para o pobre pecador e lhe dá segurança e paz. Mais tarde, Ele satisfará o desejo das nações e de toda a criação de Deus por meio da instituição de Seu Reino e da exibição de Sua glória. Mas é sempre Cristo, seja o Cordeiro de Deus sacrificado no altar ou o Rei da glória em Seu trono. Seu povo não tem mais nada a desejar, pois encontrou Nele a resposta para todas as suas questões. O pecador encontrou satisfação e descanso no Cordeiro de Deus, e a criação se regozijará naquele sobre quem está escrito: "Majestade e esplendor há diante dele, força e alegria, no seu lugar" (1 Crônicas 16: 27). Todas as criaturas participarão da glória daquele dia. A filha de Sião, as nações com seus reis, os animais da floresta e os rebanhos nas montanhas, as águas e as florestas, as colinas e os vales, todo o universo participará dessa alegria abrangente, dessa profunda satisfação e paz da criação de Deus.


Observemos uma última diferença: No dia de Sua glória, o Rei será procurado - a Rainha do Sul sobe ao Monte Sião para oferecer-Lhe sua homenagem. Filipe, Seu servo e testemunha, busca o etíope e o encontra.


Que harmonia, que precisão, que beleza nas diferenças de todos esses detalhes! Quão perfeitos são os caminhos dAquele com quem estamos lidando!


ME

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