Disciplina no Deserto

Disciplina no Deserto (Ex 15: 22-27; 16:1-4; 17:1-6.8)

Eu pensei nestes trechos, depois que expressamos que o Senhor Jesus, nosso Pastor, nos supre do pão da vida e do óleo de alegria, e que seu amor torna doce o amargo, no hino que cantamos. No capítulo 15, lemos da água amarga que só pôde ser saboreada depois de tornada doce. No capítulo 16 encontramos o pão da vida, e no capítulo 17 o óleo da alegria e a água viva, que brota da rocha ferida, e que ligado a João 4 e 7, é figura da habitação do Espírito Santo em nós. Sabemos que o óleo na escritura é uma figura do Espírito Santo (veja Zc 4:1-6; 1 Jo 2: 20, 27).
Quando lemos estes capítulos juntos encontramos importantes lições que podemos aprender no deserto. No hino que cantamos sobre o Senhor Jesus como nosso pastor, trata-se de deserto e não do céu, no qual nos encontramos assentados em Cristo, e onde podemos usufruir das bênçãos celestiais (Ef 1:3; 2:5, 6). No deserto o Senhor é nosso pastor. Ele nos guia através do deserto de tal forma que nossas bênçãos são seguras. E no caminho através do deserto ao monte de Deus ele nos guia através do fogo (Ex 3). A sarça (espinheiro) arde para que os espinhos (o resultado da queda do homem) sejam consumidos. Mas a sarça não é consumida pelo fogo que Deus acendeu. Fogo é figura da penetrante e provadora santidade de Deus.
Neste capítulo encontramos as lições que o povo precisa aprender depois de liberto do Egito. Esta libertação é o grande objeto do livro de Êxodo. Logo nos primeiros versos do capitulo 1 nos são apresentados os filhos de Israel, que vieram para o Egito com Jacó. O nome Israel significa “príncipe de Deus” ou “combatente de Deus”. Deus vê todos que confessaram seus pecados, e assim são convertidos e renascidos, da forma como se tornaram no Senhor Jesus. Mas Jacó significa “agarrador de calcanhar” ou “enganador”, e isto eles são enquanto permanecem praticamente no Egito. Egito é figura do mundo, do mundo do homem independente que crê não precisar de Deus (veja Dt 11: 10-15; Ex 5: 2, onde Faraó diz: "Quem é o Senhor para que lhe ouça eu a voz, e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir a Israel"). A pesar de os filhos de Jacó fazerem parte do futuro povo de Deus, e figuradamente serem renascidos, tendo visto os próprios pecados e confessado sinceramente diante de Deus, ainda se encontravam no mundo. Eles eram carnais como o homem em Romanos 7 e como era o próprio Jacó, antes de experimentar e aceitar o juízo de Deus. Jacó amava a benção de Deus, mas procurava alcançá-la por meios humanos. Realmente eram meios humanos, com seu nome expressa!
Nós conhecemos a história dos primeiros catorze capítulos do livro de Êxodo. Deus libertou o povo do Egito pelas dificuldades que tinham lá. Eles eram açoitados e oprimidos pelos egípcios e precisavam trabalhar pesado. Quando Deus enviou Moisés, por meio de quem ele queria libertar o povo, ficou pior ainda. Mas tudo o que o Senhor faz provém de sabedoria e leva seguramente ao objetivo. Quanto mais pesadas as provas, mais precioso o resultado. Ele sabe o caminho pelo qual podemos ser libertos, pelo qual podemos ser libertos do mundo e do estado carnal, em que cada um se encontra, que ainda não progrediu além de convertido e renascido. Infelizmente alguns permanecem a vida inteira neste estado. Mas o Senhor sabe que nós só podemos ser realmente felizes, ter total comunhão com Ele, poder ser seu guerreiro, se ele nos guiar pelo caminho pelo qual também levou os israelitas.
Deus deixa vir as dez pragas sobre o Egito para que os israelitas reconheçam o estado do mundo. O mundo jaz no maligno (1 Jo: 5, 19), e o juízo de Deus permanece sobre ele e já o atinge a pesar de que o juízo final ainda aguarda. Assim Israel aprende a diferença entre a posição do povo de Deus e a do mundo. Eles vêem o privilégio de pertencer ao Senhor, enquanto em todo o Egito é noite, mas tem luz nas casas dos israelitas. Na última praga (figura do juízo final) todos os primogênitos do Egito são mortos. Com isto os egípcios são conscientizados do significado do juízo de Deus. Eles se queixam na manhã seguinte: “Todos morreremos!" (capitulo 12: 33). Nos primogênitos vemos todo o povo. Dos israelitas os primogênitos permanecem vivos porque seguiram o caminho que Deus lhes tinha mostrado. Todos que renasceram precisam seguir este caminho, seja curto ou longo. Deus irá concluir a sua obra e os deixará seguir o caminho dos primogênitos de Israel – eles precisam buscar abrigo atrás do sangue do cordeiro sacrificado,
refugiar-se ao Senhor Jesus e ver então que ele suportou o juízo por todos os seus e que não há mais juízo para eles. Este é o caminho importante, que deve seguir a conversão e novo nascimento. Na conferencia nós meditamos sobre o que é conversão. Ela é um retorno e volta a Deus, com arrependimento sobre o passado e confessando o pecado e culpa. Este é o significado da palavra metanoia, que é empregada principalmente no novo testamento. Não com as costas para Deus e rosto desviado de Deus, como fez Caim, mas voltado para Deus, para confessar seu pecado e culpa. Isto ainda não é o abrigo atrás do sangue da reconciliação, mas o reconhecimento da necessidade de perdão e redenção. Então Deus aponta para Ele, aquEle que ele deu para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3: 16). Deus apresenta o Senhor Jesus e sua obra na cruz, para que aquele que se reconheceu pecador, o aceite. E quem o aceitar sabe que está seguro ante o juízo de Deus.
Então a história continua. Agora os israelitas são guiados através do Mar Vermelho. Isto é para eles a prova definitiva, de que estão seguros do juízo de Deus, e que o juízo recai apenas sobre o mundo que não reconhece Deus. Eles aprendem que estão definitivamente separados do mundo, e de que estão seguros por meio desta separação ante o juízo de Deus. O ódio do mundo se revela. Eles precisam sair do mundo, do Egito, e eles conhecem o caminho.
O único caminho pelo qual alguém pode sair do Egito passa pelo Mar Vermelho, uma figura da morte e ressurreição de Cristo. Mas ele ainda não chega á terra prometida, mas ao outro lado do Mar Vermelho, no deserto, e, portanto, não se encontra mais no Egito. A morte de Cristo realmente nos separa do mundo. Conforme a escritura, o sangue do Senhor Jesus protege do juízo de Deus. O sangue de Cristo (Seu sofrer e morrer na cruz) fala do juízo de Deus sobre nossos pecados e assim nos protege do juízo. Mas a morte do Senhor Jesus fala da morte de todos pelos quais Ele morreu, portanto, nem tanto do juízo sobre nossos pecados, apesar de isto também estar incluso, mas do juízo de Deus sobre a natureza pecaminosa, que o homem tem como descendente de Adão – morto em delitos e pecados (Ef 2: 1) "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum" (Rm 7: 18). A natureza pecaminosa, que cada um tem como descendente de pais pecadores, é um empecilho total para comparecer na presença de Deus, portanto no céu. A natureza pecaminosa não pode permanecer na luz de Deus e também seria totalmente infeliz se precisasse permanecer ali! Uma natureza em que não habita bem algum, que só quer pecar, seria profundamente infeliz se chegasse ao céu, porque ali não é possível fazer o mal na presença daquele que é luz e em quem não há trevas nenhumas (1 Jo 1: 5).
Portanto quem deseja vir a Deus – como vemos no capítulo 3, quando Moisés guia o rebanho ao monte de Deus “para que esteja ali com ele” – precisa passar pelo Mar Vermelho, que fala da morte e ressurreição de Cristo. É a morte sob o juízo de Deus, pela qual podemos passar seguros porque Ele, que não conhecia pecado foi feito pecado para nós, para que fossemos feitos justiça de Deus nEle (2 Co 5: 21). E a mesma morte como juízo de Deus significa eterna perdição para aqueles que são do mundo, para Faraó e todo o seu exército! Ali no Mar Vermelho nós ficamos conhecendo o juízo de Deus para o mundo e todos os incrédulos, mas também o que a obra do Senhor Jesus, Seu sangue no capítulo 12 e sua morte no capítulo 14 significa para nós.
Agora o povo se encontra do outro lado do Mar Vermelho (capítulo 15). Libertados do Egito eles cantam: "Cantarei ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro." Salvos, mas só pela graça. Os homens vêem pela fé a plena salvação. As mulheres cantam simplesmente da libertação do Egito. Mas os homens também cantam: "até que o teu povo houvesse passado, ó Senhor, até que passasse este povo que adquiriste.Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram." (V. 16, 17). Eles tem a fé dos filhos de Coré, quando estes cantam no Salmo 84: 7: "Vão indo de força em força; cada um deles em Sião aparece perante Deus." Eles se encontram no estado espiritual de Romanos 5: 1, 2: "Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus."
Mas apesar de Deus ver todo homem convertido e renascido em pleno valor do sangue de Cristo e de acordo com seu propósito, o Pai não vê os seus assim em Romanos 5, como são apresentados na Epístola aos Efésios: já assentados nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Ele os vê em Romanos 5 na posição do povo de Israel em Êxodo 15: Eles precisam continuar a viagem até a terra prometida. E se continuarem chegarão ao deserto. Ali percebem: Nós ainda não estamos no monte de Deus, ainda não na terra prometida. O monte de Deus eles só alcançarão no capítulo 40 e a terra prometida em Josué 3. Antes precisam passar pelo deserto, que é descrito em Números. Ali precisam ser o exército do Senhor, o exército de Israel = guerreiros de Deus. Nos primeiros capítulos são apresentados em suas fileiras. E isto encontramos essencialmente em Êxodo 15 - 40.
Agora eles se encontram no deserto. Para nossa fé o mundo é um deserto. Para o homem natural (e também para nossa carne) o mundo, Egito, é um lugar terrível, onde o nosso sustento obrigatoriamente provém do trabalho (veja Gn 14: 12). Mas a fé age como Paulo em Filipenses 3: 7-15: "tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” e “mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Como pode a ainda desejar coisas deste mundo, onde se ofereceu apenas uma cruz e uma sepultura para o nosso Salvador? A nova vida, que recebemos no novo nascimento, não encontra nada de valor no mundo! Não encontra alimento nem refrigério para a necessidade do coração novo. Mesmo assim precisamos passar pelo deserto. Não para sermos aperfeiçoados para o céu. Isto são todos os renascidos que confessaram culpa e pecado diante de Deus, aceitando o Senhor Jesus como Salvador. Nossa fé, como disse, precisa ser provada, para reconhecermos melhor a inutilidade de nossa carne, nossa fraqueza em que andamos com o Senhor, mas também a misericórdia e bondade do Pai e do Filho, o poder do Espírito Santo que habita em nós e que faz tudo por nós. Além disso nós precisamos ser disciplinados para guerreiros treinados de Deus. É este o fim antes de tudo de Êxodo 15 – 40. Precisamos experimentar que com Deus tudo está disponível em abundância, tudo que necessitamos para o tempo e a eternidade, para que também de nós possa ser dito o que os filhos de Coré cantam no Salmo 84: 5: "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados!"
Certamente, nós também temos uma luta nos lugares celestiais, onde nos encontramos em Cristo (Ef 2: 6; 6: 10, etc.). Mas só poderemos vencê-la realmente quando alcançarmos moralmente o fim da caminhada no deserto, ou seja, quando aprendemos as lições do deserto. E isto também significa que, nós como povo de Deus, como exército de testemunhas de Deus, tenhamos atravessado o deserto. Isto antes de tudo também nos é apresentado nos dez primeiros capítulos de Números. São testemunhas de Deus e portanto o testemunho dEle, que é "Deus revelado em carne" (1 Tm 3: 16). Não há, penso, nenhuma figura mais multilateral do Senhor Jesus no velho testamento, que a arca do testemunho. Em Números 2 a 4 e também em 10: 21 vemos o lugar que o tabernáculo tinha, no meio do povo quando caminhavam como também quando acampavam num lugar. Mas os mesmos capítulos e 10: 33 nos mostram que a arca era o mais importante. Quando Moisés relembra no princípio de Deuteronômio a viajem através do deserto, ele cita no capítulo 10: 8 e 9 literalmente que os levitas carregam a arca.
A ara era feita de madeira, Figura do Senhor Jesus como fruto da terra, como é apresentado em Isaias 4: 2. Mas esta madeira era revestida de ouro puro, símbolo da justiça e glória celestial divina. A madeira junto com o ouro são um indicativo de sua humanidade e real divindade. Sobre a arca se encontrava o propiciatório sobre o qual estavam os querubins. Este era o trono de Deus, de onde Ele falava com Moisés (Ex 25: 22; Nm 7: 89). Portanto, um indicativo de que Ele era o criador (Jo 1: 3; Cl 1: 16) e aquele que governa o universo, e o juiz que julgará tudo na criação (2 Co 5: 10; Jo 5: 22, 27; At 17: 21, etc.; veja também Is 33: 22; 11: 1 – 4). Mas este trono se tornou para nós o trono da graça (Rm 3: 25; Hb 4: 16), pelo fato de que o sangue é espargido sobre o propiciatório (Lv 16). Assim o Senhor também é o único mediador entre Deus e os homens, como lemos em 1 Tm 2: 5 e 6. Os levitas podiam veneravelmente carregar a arca, que representava tudo isto, através do deserto, para que não fosse contaminada ou até roubada pelos inimigos. Também nós recebemos a maravilhosa ordem de Deus, de proteger e guardar o testemunho da verdade sobre a pessoa de Cristo como verdadeiro Homem e eterno Deus neste mundo, que O rejeitou e só teve uma cruz e um tumulo para Ele, zelar por todas as coisas maravilhosas que citei, guardar e defender, para que, até que Ele venha, permaneça um testemunho puro, não contaminado neste mundo, cujo príncipe e deus é satanás. Mas isto só podem príncipes e guerreiros de Deus (Israel). Portanto, devemos ser disciplinados para ser esses combatentes. Este serviço é um dos motivos porque precisamos atravessar o deserto.
Aqui em Êxodo 15 temos o início da caminhada pelo deserto. Depois de três dias o canto silenciou, e o povo começa a aprender o que é o deserto: Eles não encontram água, nada para matar a sede. No mundo não há nada que pode saciar a sede de nossa nova vida e satisfazer nosso coração. E quando encontram água em Mara, esta está amarga e não podem bebê-la. O que encontramos no mundo, se buscarmos por inexperiência ou tolice para satisfazer as nossas necessidades espirituais no mundo (seja de que maneira for), é amargo e intragável. O Senhor nos ensina que tudo que necessitamos precisa vir somente dEle e que só isto é bom. Só Ele pode satisfazer as necessidades de nossos corações com alimento e refrigério, assim como só Ele pode dar o poder que os guerreiros de Deus necessitam. Água viva é uma figura da palavra de Deus, mas vivificada pelo Espírito Santo. E ela salta da rocha ferida, com veremos no capítulo 17.
A grande lição destes três capítulos é que toda benção tem ligação com o Senhor Jesus e que vem dEle: em parte com Sua vida na terra, parte com Sua obra na cruz e parte com Seu serviço agora com homem glorificado no céu. Não há benção fora dEle, e Ele nos educa para sermos penetrados. Assim crescemos para pais em Cristo, dos quais é dito duas vezes: “Pais, escrevo-vos, porque conhecestes aquele que é desde o princípio.” (1 Jo 2: 13, 14)! Mais que isto não é dito deles. Para os jovens é dito bem mais e para os filhinhos muito mais ainda. Mas dos pais não é preciso dizer mais (e o apóstolo o repete) do que, que conheceram aquele que é desde o princípio. Eles reconheceram que tudo que é bom provém dEle, e tudo que não provém dEle não é bom. Eles também descobriram que Ele é suficiente para todas as necessidade da vida, que não há nenhuma necessidade que Ele não possa satisfazer. Qualquer necessidade é satisfeita quando erguemos os olhos para Ele e nos alimentamos dEle na sua glória, com tudo que podemos encontrar nEle.
Agora o povo enfrenta a segunda dificuldade. Em Mara há água, mas está amarga. O povo murmurou: "Que havemos de beber?" Este é o mesmo povo que, há três dias cantou com fé: "até que o teu povo houvesse passado, ó Senhor, até que passasse este povo que adquiriste. Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram." Três dias depois eles murmura: “Que havemos de beber?”, e no capítulo seguinte dizem: nós vamos morrer!
No deserto nós somos provados, e fica provado quanto vale nossa fé. Aprendemos que o Senhor precisa dar até a fé prática. Efésios 2: 8 diz que a fé é um dom de Deus (a pesar de ali se tratar do princípio da fé e aqui a realização da fé prática no dia a dia). A fé em si não é nada e nós podemos no Maximo dizer como o pai daquele jovem possesso: "Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé!" (Mc 9: 24). Esta é uma expressão à qual precisamos chegar. Também nossa fé é totalmente dependente do Senhor. Só quando meu olho está direcionado ao Senhor eu não desespero nem vacilo.
Mas isto só aprendemos na prática, quando vemos que Ele está acima de tudo e que pode tornar o amargo doce. Isto é impossível para o mundo compreender e também para a nossa carne. E bem ali, porque ainda temos a carne em nós, precisamos aprender a lição da água amarga. A água é amarga por causa do sal contido nela. A fonte se encontra em terreno baixo em estreita faixa ao longo do Mar Vermelho. Nós na Holanda, sabemos como a água salgada do mar invade o lençol freático, quando não há água suficiente na terra, para afastá-la. Esta água salgada, portanto é água do Mar Vermelho, pelo menos tem o mesmo caráter. Nós vimos que esta água fala da morte, do juízo de Deus. Os egípcios morreram nela, mas os filhos de Israel puderam atravessar de pé seco porque Deus lhes preparou o caminho. Vimos que o Mar Vermelho é figura da morte e ressurreição de Cristo para nós. Deus aplica este morrer a nós; Ele nos vê mortos com Cristo, crucificados e ressurretos com Ele. Não há mais julgamento para nós, e podemos cantar com júbilo, a pesar de que o Mar Vermelho represente a morte par os que pertencem ao Egito, ao mundo. Nós fomos libertados do poder do mundo e de satanás.
Nosso morrer com Cristo também tem conseqüências práticas para nossa vida na terra. Quando vimos no primeiro trecho em Êxodo 15 a posição descrita em Romanos 5: 1 – 11, então encontramos nos versículos seguintes a realidade da morte com Cristo: "Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? ... Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. ... Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências" (Rm 6: 2, 6, 11, 12). Assim também lemos em Colossenses 3: 3, que morremos, mas continua: "Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra" (V. 5), e, "Mas agora, despojai-vos também de tudo" (V. 8). Esta é a conseqüência de termos morrido com Cristo. Não em relação a Deus mas em relação ao mundo e tudo que pertença a ele. "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo." (Gl 6: 14). A água amarga, portanto é a aplicação da cruz à nossa carne, à nossa vida prática aqui na terra. Deus mostra que o privilégio e o poder da redenção precisam estar em harmonia.
A carne se assusta com isto. Ela deseja as coisas do mundo, as coisas do Egito. Ela pede sossego e o máximo prazer nas coisas do mundo, e não deseja ver as instruções da cruz, que o juízo de Deus paira sobre o mundo e sobre tudo que nele está (1 Jo 2: 15-17; 5: 19). Mas não há nada no deserto, que pode satisfazer a alma, a nova vida que recebemos? Só água amarga (salgada) que não mata a sede, mas a aumenta? "E ele (Moisés) clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore (madeira), que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces." De que a árvore (madeira) é figura? Eu penso no que o Senhor falou em Lucas 23: 28, 31 para as mulheres de Jerusalém, quando lamentavam e choravam por Ele: "não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos ... Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?" Ele era o lenho verde, nEle estava a vida e nenhuma deterioração. A madeira de acácia da qual eram feitas mais tarde, muitas partes do tabernáculo, como a arca, a mesa dos pães da proposição, os altares, é traduzida na Septuaginta (tradução grega do velho testamento) como "Madeira incorruptível". Ela era incorruptível apesar de ter nascido no deserto. Isto não é figura do Senhor Jesus?
Aqui não diz que árvore (madeira) era. Mas a madeira que foi lançada nas águas da morte só pode ter sido o Senhor Jesus na cruz (GI 3: 13). E isto não torna a água amarga, doce? Os apóstolos “Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus” (At 5: 41). Aos Filipenses "foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele” (Fp 1: 29). E Paulo que escreveu isto desejava "conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte; Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos" (Fp 3: 10,.11). Quando o novo testamento fala de nosso sofrimento para Cristo, sempre está ligado a gozo (Mt 5: 11, 12; 1 Pe 4: 12 – 14). E se nós seguirmos o caminho da separação do mundo, como mortos, e principalmente ao que não corresponde aos pensamentos de Deus, então este é o caminho pelo qual Ele andou antes de nós (Hb 2: 10).
Mas não  continuação? E não são todas as dificuldades que também nós como crentes enfrentamos, conseqüência do juízo de Deus sobre o pecado, da maldição de Deus sobre a criação (Gn 3: 17-19)? Como são amargos para nós! Mas não muda tudo, quando miramos o Senhor Jesus, e tivermos sua comunhão nestes sofrimentos? "Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, ... porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados." (Hb 2: 17, 18; compare 2: 10; 4: 15). Ele sabe por experiência o que é ser tentado pelo diabo, pois o diabo aplicou todas as suas tentações nEle.  Ele sabe quanta força é necessário para resistir, e neste conhecimento Ele é nosso grande Sacerdote, que vive para interceder por nós (Hb 7: 25; Rm 8: 33, 34). Ele sabe o que é ter fome, estar cansado, ter dores. Ele sabe o que é morrer e estar diante da sepultura de pessoa amada (Jo 11: 34). Ele sabe por experiência o que é não ser compreendido por amigos (Lc 22: 35 – 38). Apesar de nunca ter estado doente, pois não tinha pecado, Ele sabe por experiência o que é doença, pois Ele as sofreu em espírito quando curava doentes (Mt 8: 17). Ele sabe por experiência o que é ser rejeitado pelo mundo, ser odiado, ser açoitado, cuspidor e ser blasfemado e muitas coisas mais. Ele nos compreende em todo sofrimento e toda tristeza que temos. Quando nestas condições formos a Ele, então temos comunhão com Ele e Ele conosco. Isto não muda tudo? A água amarga não fica doce? Porque á medida que vemos Ele nas dificuldades, nós o experimentamos! Eu ouvi recentemente de uma mulher, crente, que se encontrava a trinta anos no leito de doença, e que durante todo este tempo não saiu uma vez de seu quartinho. Quando se perguntou a ela como estava, ela respondeu: Eu estou tão feliz no Senhor, que tenho medo de meu coração explodir, porque a felicidade é tão grande.
Assim aprendemos pela água amarga, o que é o caráter deste mundo aos olhos de Deus, e que não há nada no mundo que realmente satisfaz nossos corações tornando nos realmente felizes, mas também que tudo pode ser encontrado no Senhor Jesus tudo que necessitamos aqui no mundo, sim, que seu amor e sua comunhão pode adoçar o sofrimento mais amargo. Quando aprendemos isto, então continua: "Ali lhes deu estatutos e uma ordenança, e ali os provou." Então o povo chega a Elim, onde havia doze fontes e setenta palmeiras. Se a palavra de Deus é nossa única diretriz para nosso caminho e obedientes só perguntarmos por sua vontade, para a fazer encontraremos abundante refrigério – água viva para nossa sede, palmeiras para alimento e sombra no calor. O número 12 fala de perfeição no governo. Apesar de o Senhor ter aperfeiçoado para sempre os que são santificados com uma só oblação (Hb 10: 14), e não havendo condenação eterna para aquele que é convertido e renascido, também é verdade para nós crentes, que Deus no seu governo resiste aos soberbos e concede sua graça aos humildes (1 Pe 5: 5). A benção sobre a terra, para nós, depende da obediência, como vimos há pouco. A desobediência é julgada, apesar de o julgamento ser só para esta terra (1 Co 11: 31, 32). Aqui são doze fontes pelas quais provem a benção de Deus ao povo obediente (compare Lc 9: 1, 2; 10: 1, etc.).
São as fontes (também podemos traduzir "Fontes de repuxo ou chafariz"), que não é dito no verso 23 (Mara). Água não salta com força própria para o alto. Numa fonte assim há uma força por traz da água que a faz saltar para cima. Em João 4: 14 e 7: 37 – 39 aprendemos que é o Espírito Santo que vivifica a palavra de Deus, de modo que a nova vida em nós passa a ter uma conexão viva com o Senhor Jesus na glória. Ele é o verdadeiro Deus e a Vida Eterna (1 Jo 5: 20). Por isto nós já agora estamos em condições de usufruir as eternas bênçãos (era o oitavo dia dos tabernáculos). Em João 17: 3 o Senhor Jesus fala: "E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Assim nós também podemos admirar a glória do glorificado Homem, do eterno Filho de Deus, Sua beleza no deserto. Ele é o alimento para a nossa nova vida e mata a sede de nossos corações.
No capítulo 16 o povo continua a sua caminhada. Eles não permanecem sempre no mesmo lugar. Ás vezes parecem voltar à traz. Se por ex. se lermos Números 21: 4, vemos que de vez em quando precisaram voltar um bom trecho, como se precisassem voltar ao Mar Vermelho. E no entanto irão alcançar uma vez a terra prometida. Sim, segundo Deuteronômio 1: 2 esta viajem poderia ser concluída em onze dias; mas o povo precisava mais que trinta e nove anos. Ele precisaram peregrinar de um lugar para outro. Também nós não permanecemos sempre no mesmo lugar, porque nós também precisamos aprender. Nós precisamos ser treinados para guerreiros de Deus. E não só isso, mas é para sermos testemunhas de Deus e do Senhor Jesus. A arca da aliança foi transportada por todo o caminho que andaram, de um lugar para o próximo no deserto. Em todas as condições a arca era o testemunho de quem era o Senhor Jesus. Até no lugar onde o povo foi infiel, onde precisou aprender as lições mais pesadas, estava a arca da aliança. A humanidade viu que um povo, apesar de toda a sua infidelidade era o povo de Deus; um povo que olhando para si mesmo precisava dizer: "Quão terríveis somos!"; um povo que precisou passar por provas tão difíceis que o mundo nem conhece. Hebreus 12 nos diz que o povo de Deus é disciplinado porque é o povo de Deus. E Salmo 73 nos ensina que um crente tem muito mais dificuldades na prática em sua vida que um descrente. Mas ver o fim dos dois caminhos é a chave para compreensão da diferença! "Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo." (1 Co 11: 32).
Também nisto o povo foi um testemunho para fora para o Senhor. Em Números 22 – 44 vemos isto claramente. O povo se encontra ali nas planícies de Moabe. Com temor Balaque envia a Balaão, para que venha e amaldiçoe o povo. E este que ama o dinheiro vem. Mas Deus faz com que Balaão não consiga amaldiçoar o povo, mas o obriga a abençoar. Então o hostil servo de satanás diz: "Não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó; o Senhor seu Deus é com ele, e no meio dele se ouve a aclamação de um rei. Deus os tirou do Egito; as suas forças são como as do boi selvagem. Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; neste tempo se dirá de Jacó e de Israel: Que coisas Deus tem realizado!" (23: 21 – 23). Então vemos que o povo é um exército de guerreiros: "Eis que o povo se levantará como leoa, e se erguerá como leão; não se deitará até que coma a presa, e beba o sangue dos mortos. (V. 24). E no capítulo seguinte: "Quão formosas são as tuas tendas, ó Jacó, as tuas moradas, ó Israel! Como ribeiros se estendem, como jardins à beira dos rios; como árvores de sândalo o Senhor os plantou, como cedros junto às águas; De seus baldes manarão águas, e a sua semente estará em muitas águas; e o seu rei se erguerá mais do que Agague, e o seu reino será exaltado. Deus o tirou do Egito; as suas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e com as suas setas os atravessará" (24: 5 – 8). Apesar de ser dito no capítulo seguinte que o juízo de Deus caiu sobre Israel, pois se uniram às filhas dos midianitas praticando idolatria e prostituição, o inimigo precisa dizer o que acabamos de ler. O povo é o exército de combatentes de Deus, e por isto sob a disciplina do Senhor!
Em Êxodo 16 os vemos outra vez: Eles tem fome. "Quem dera tivéssemos morrido por mão do Senhor na terra do Egito" (V. 3). Isto eles dizem quando acabaram de ser libertos da escravidão do Egito, onde gemiam! É quase tão grave como o que disseram em Números 20: 3, 4: "Quem dera tivéssemos perecido quando pereceram nossos irmãos perante o Senhor ... " Isto não é terrível? A tal ponto podem chegar crentes! Nós não temos dito coisa parecida na prática? Talvez não publicamente, mas em nosso coração murmuramos contra Deus: "Quem dera tivéssemos morrido por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar!" Nossa carne pede volta às coisas do mundo, que não nutrem nossa nova vida e não podem matar a nossa sede, sobre as quais paira a morte! Nós precisamos aprender que no mundo, que é um deserto para a fé, não há nada que pode satisfazer o coração de um cristão.
Um incrédulo pode tentar satisfazer seu coração pelas coisas do mundo em todas as suas sombras, por tudo que é encontrado ali, e satanás oferece muito ao mundo, mas tudo isto não é alimento que realmente pode satisfazer. O coração continua insatisfeito e sedento. No máximo será tão carregado com as coisas do mundo não sobrando lugar para verdadeiro alimento. Se eu tivesse fome e comesse serragem, não sentiria mais fome. Mas serragem não tem nenhum valor nutritivo.
A maneira de Deus é não dar nada enquanto não tivermos necessidade. Tudo que ele dá é tão precioso que Ele não quer desperdiçar. Estas necessidades aprendemos a conhecer depois que nascemos de novo. Então o Senhor diz: „Eis que vos farei chover pão dos céus ... Entre as duas tardes comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão" (V. 4, 12). Assim eles encontram as codornizes e o maná, portanto, não só pão mas também carne. E não temos estas duas coisas em João 6, onde o Senhor Jesus diz: "Eu sou o pão da vida", e "este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (V. 48.50.51)? Este é o alimento para os nossos corações, enquanto estamos no deserto: Ele, o homem do céu, que veio a este mundo e viveu trinta e três anos em todas as condições pelas quais nós crentes precisamos passar, para que como homem por experiência as conhecesse. E nisto Ele nos mostra quem é Deus para uma alma que confia nEle nestas condições. Por isto Ele é nosso grande sacerdote junto ao trono de graça de Deus, para nos defender / representar ali, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hb 2; 4; 7).
Então vemos aqui as codornizes, a carne. Isto é a primeira coisa que um homem conhece, como o Senhor diz em João 6: 54: " Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia." Quando um pecador vem a Deus, para se alimentar do Salvador morto, ele recebe vida eterna. Isto todos nós crentes fizemos. Desta maneira nascemos de novo e recebemos a vida eterna. Mas então segue no verso 56: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim." Também aqui vemos que alimentar-se com o Salvador, como Ele morreu na cruz, é para aqueles que já tem a vida eterna. A nova vida precisa dEle como alimento, Ele, que é a fonte desta vida em nós. Isto nós vemos na figura do sacrifício pacífico, do qual Deus recebe sua parte (que em Lv 3: 11, 16 é chamado de manjar (alimento) do Senhor); onde o sacerdote (figura do Senhor) recebe uma parte; o ofertante recebe uma parte e do qual cada israelita, que estivesse limpo, podia comer. Uma ceia da família de Deus reunida, para nos alimentarmos daquEle que morreu na cruz.
Não fazemos isto quando nos reunimos nas manhãs de domingo? Então nos reunimos, não para receber, mas para declarar nossa gratidão, e permita Deus, também trazer nossa adoração. E podemos estar ocupados com nosso Salvador e sua obra na cruz, sem que nossos corações recebam nutrientes e sejam preenchidos com Sua glória, ao contemplá-lo assim? Assim como as codornizes, Ele se põem como morto diante de nossos corações. Ele nos mostra as suas mãos e seu lado (Jo 20: 20), para sermos lembrados que Ele é o crucificado, para podermos nos alimentar dEle. Depois veio o maná na manhã seguinte, o pão do céu – Ele, o homem do céu, aqui na terra, como o Senhor diz em João 6, para ser nosso alimento no deserto. Que maravilhoso alimento para nosso coração, nos ocuparmos com Ele, como Ele passou por este mundo, o mundo pelo qual precisamos passar!
Pensamos que Ele não conheceu dificuldades como as nossas? Siga o Seu caminho descrito nos evangelhos. Quando Ele veio para a terra havia apenas uma manjedoura à sua disposição, na qual Ele foi deitado. Para Ele, o criador do céu e da terra, não havia lugar numa hospedaria. Segundo Cl 1: 15 Ele, como homem era o primogênito da criação, o mais elevado sobre todas as criaturas, mas não havia lugar na hospedaria. Nós cantamos num hino: "Nascido num estábulo", mas isto não é verdade. Uma manjedoura para animais, que costumava ficar fora, no tempo, e foi a única coisa que o homem lhe queria dar. Mal havia nascido e Herodes buscou matá-lo, e Ele precisou fugir para o Egito. Voltando do Egito, precisou morar em Nazaré, cidade da qual Natanael disse: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?”, de tão mal falada que era. Depois de morar ali 27 anos, começou a servir pregando, então queriam matá-lo, eles que viram sua perfeição, sua bondade diariamente, aqueles que viram quem Ele era em seu amor e graça, queriam jogá-lo do despenhadeiro, para matá-lo. Este era o estado deles!
Da Judéia e de Jerusalém Ele precisou sair, pois buscavam matá-lo. Também na Galiléia O perseguiram. Ele não tinha lugar para reclinar sua cabeça. E quando foi levado para a cruz não havia mais lugar para apoiar o seu pé. Só uma cruz e uma sepultura foram Sua parte na terra a partir dali. Durante seu serviço Ele vivia do que algumas mulheres da Galiléia lhe davam. Assim Ele seguiu seu caminho, perseguido pelo ódio e escárnio. No fim lhe cuspiram no rosto, o açoitaram, lhe puseram uma coroa de espinhos, o símbolo da maldição de Deus sobre a terra. Ele conhece todos os perigos, todas as dificuldades, todos os sofrimentos, daqueles que servem a Deus num mundo cujo príncipe é Satanás. Ele sentiu perfeitamente que o mundo é um deserto. Ele foi tentado por todas as tentações. Satanás veio primeiro a Ele com todas as suas tentações, e assim conhece tudo por experiência própria. Não há tentação para nós que Satanás não tenha experimentado primeiro com Ele. Mas o Senhor venceu Satanás, e assim conhece toda a força das tentações por experiência própria. Finalmente Satanás o deixou. Ninguém abandona uma luta de vida ou morte enquanto ainda tem armas não experimentadas. E para Satanás foi uma luta de vida ou morte, pois sua derrota selava seu juízo final, ao não vencer o homem Cristo Jesus. Este foi o primeiro Homem que ele não pôde vencer. E ele sabia, esta é a semente da mulher que havia de esmagar a cabeça da serpente. Ele não tinha mais armas e deixou o Senhor por um tempo. No jardim Getsêmani ele voltou. Agora, com todo o seu poder, para fazer o Senhor recuar diante da obra na cruz – a terrível obra, de precisar carregar nossos pecados, ser feito pecado por nós e depois sofrer o castigo de Deus. "Meu pai, se possível, passa de mim este cálice " (Mt 26: 39). Todas as tentativas de Satanás o Senhor conhece por experiência própria, e ele sabe que poder estas tentações tem, e quanto poder é necessário para resistir. Agora Ele é nosso sacerdote junto a Deus, diante do trono do governo de Deus (que pelo sangue do sacrifício pelo pecado, aspergido sobre ele, se tornou para nós o trono da graça), para recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hb 4: 16).
O senhor conhece todas as dificuldades que há no mundo. Ele chorou com as irmãs do falecido diante de tumulo de seu amigo. Ele teve fome e sede. Ele lamentou: "Em paga do meu amor me hostilizaram" (Sl 109: 4). Ele foi solitário – encontramos alguma vez os seus discípulos compreendendo os seus sentimentos? Ele era como o passarinho solitário no telhado e como o pelicano no deserto – uma ave aquática em um lugar onde não há água, em um ambiente que lhe é totalmente estranho. Ele compreende nossa aflição. E assim Ele é nosso alimento, o maná para o nosso coração no deserto, enquanto nos encontrarmos nestas situações.
Então encontramos a terceira parte no capítulo 17: "e não havia ali água para o povo beber" (V. 1). E novamente eles murmuraram: "Porque nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a nossos filhos e a nossos rebanhos?" (V. 3). Isto não é dito de vez em quando em nosso meio? Não o vemos nitidamente nas casas de alguns crentes? Porque eles tem então TV, se não para receber a água do mundo? Porque buscam tanta coisa do mundo, para satisfazer suas necessidades, quando tem sede, e não vão à fonte onde podem receber água viva? Eles desejam matar a sede com a água do mundo, e dizem: " Porque nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a nossos filhos e a nossos rebanhos?" Porque não ficamos no Egito, onde tínhamos tudo que os egípcios tinham? Por comodidade esquecem do juízo que aguarda o Egito, do qual foram testemunhas, esquecem da alegria e gratidão quando foram libertos do Egito.
Aqui encontramos a resposta do Senhor por nossa infidelidade, nossa carnalidade, nossa ingratidão, por todo o nosso estado. Quantas vezes nos admiramos, que o Senhor não nos pôs de lado e ainda se ocupa conosco, que ainda nos ama cuidando de nós. Não compreendemos isto: mas também isto encontramos aqui novamente! Quando o estado deles é tal Moisés clama ao Senhor: "Que farei a este povo? Só lhe resta apedrejar-me" (V. 4). Como figura do Senhor Jesus, Moises fala: Não falta muito e eles me crucificarão novamente! É do povo de Deus, que Moisés, conhecedor dos corações, precisa dizer isto.
Mas a resposta do Senhor é: "Passa adiante do povo e toma contigo alguns dos anciãos de Israel, leva contigo em mão a vara com que feriste o rio e vai. Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água e o povo beberá. Moisés assim o fez na presença dos anciãos de Israel” (V. 5, 6).
Moisés fere a rocha, e nós sabemos de 1 Coríntios 10: 4, que era Cristo. Baseado em sua morte na cruz o Espírito Santo veio para a terra, para habitar em nós e vivificar a palavra de Deus para nossos corações. Nos Salmos 78: 15 e 105: 41, este trecho é lembrado. Ali é dito que a água se tornou num rio, que quando o povo seguia os acompanhava, e quando acampavam não seguia. Um rio assim não conhecemos, e ele se opõem às leis da natureza da terra. Mas Deus está acima das leis da natureza estabelecidas por Ele. A vontade do Senhor de nos abençoar é infindável, e para Ele não há obstáculos. Nós vemos isto aqui: aproximadamente quarenta anos a água da rocha ferida acompanhou o acampamento, de forma que nunca mais precisaram ter sede. No quadragésimo ano (Nm 20) ela parou pouco tempo, porque o Senhor quis provar os corações; depois de provarem as bênçãos do Senhor por trinta e nove anos, se agora iriam confiar nEle. Mas o coração deles estava inalterado.
Aqui vemos a água, e em 1 Coríntios 10: 4 está escrito: "porque bebiam de uma Rocha espiritual que os seguia. (E a rocha era Cristo)." Ele sempre é a rocha, a única rocha. Sobre esta rocha (Cristo o filho do Deus vivo; Mt 16: 16-18) Ele também edificou a igreja. O homem natural não é rocha, mas pó. Mas quando recebe Cristo, a rocha, como sua vida, ele se torna uma pedra viva, ao adquirir o caráter da rocha. Aqui então a rocha é ferida. Exclusivamente baseado no Salvador morto, sua obra na cruz, há benção para o homem. Água é uma figura da palavra de Deus, mas vivificada pelo Espírito Santo. Este deu a palavra, e a vivificou para nós, que pelo novo nascimento recebemos a vida. Agora podemos entender a palavra de Deus, se seguirmos o nosso caminho na fé. E em figura isto é assim aqui. Como figura do cristão, o povo tem paz com Deus, pois atravessaram o Mar Vermelho na fé. E agora recebem a água viva.
Não é uma maravilhosa graça, que Deus, o Espírito Santo, veio a este mundo para habitar em cada um de nós que aceitamos o evangelho, para nos atravessar pelo deserto? E também ser a força pela qual podemos tomar posse de tudo que é bom? Todas as bênçãos espirituais, até as eternas, celestiais. Ele habitará eternamente em nós, de modo que, em breve na casa do Pai, estaremos em condições de compreender todas as bênçãos que estão ali, de tomar posse delas e usufruí-las! "a fim de que esteja sempre convosco, o Espírito da Verdade" (Jo 14: 16, 17). "Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo" (1 Co 6: 19)? Segundo João 4: 14 temos uma fonte (Chafariz) em nós, que jorra para a vida eterna, que faz união viva da vida nova em nós com o Senhor glorificado no céu. Em João 17: 3 o Senhor Jesus diz: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." E depois que o Senhor falou sobre a água viva em João 14, Ele continua falando de adoração.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4: 23, 24). Bem, adorar não é dar graças, mas expressar o que vimos da glória do Pai e do Filho. Isto só se pode quando se conheceu o Pai e o Filho pessoalmente, tendo visto algo da glória deles. Não só o que o sacrifício do Senhor Jesus significa para nós, mas o que o Pai e o Filho são em si mesmos. Então vemos isto em João 4, na fonte de água viva, pela qual nosso coração pode se nutrir nEle todo tempo, captar Sua glória, com que toda fome, toda sede será apagada. E não é glorioso que justamente no deserto podem fluir rios de água viva de nossos corpos (Jo 7)? Que nosso coração pode ser tão feliz no deserto, a ponto de ser pequeno demais para poder conter tudo? Que do corpo, do homem interior fluam rios de água viva para fora – a palavra de Deus vivificada pelo Espírito Santo?
O Senhor fala isto no oitavo dia da festa dos tabernáculos, e este fala da futura eternidade. Portanto se trata das bênçãos que serão nossa parte no céu, isto é, para nós na casa do pai! Os sete dias são figura do milênio, o oitavo dia é o que se segue, o estado eterno. Portanto nós podemos prontamente usufruir das bênçãos da casa do Pai pela fé, que em breve serão nossa parte. Pois se encontram reveladas na palavra de Deus, e o Espírito Santo que habita em nós depois que tivemos paz com Deus, nos revela pela palavra e enche nossos corações. Desta forma nossos corações podem ser tão perfeitamente felizes, a ponto de não podermos guardar para nós estas bênçãos e passem a fluir para fora. Aqui não diz que devem fluir, não que devamos testemunhar do Senhor e Sua glória. Nossos corações trasbordam, não conseguimos permanecer calados. Se nosso coração estiver cheio do nossos Salvador e de sua glória, da bondade e graça do Pai, então testemunhamos automaticamente, então somos pressionados no interior, então nosso coração não pode calar, como vimos em Êxodo 15.
De fato, o deserto não é um lugar de alegria. Não é gratificante conhecer-se melhor, ver o que se é em si. Cada vez com maior profundidade reconhecer,  que em mim,  isto é, na minha carne não habita bem algum (Rm 7: 18). Descobrir constantemente a carne em nós e aprender a ver o verdadeiro caráter do mundo em que nos encontramos. Não é agradável ser rejeitado na terra, quando seguimos nosso caminho com o Senhor Jesus, com Ele, que teve só uma cruz e uma sepultura aqui. Mas no deserto, em primeiro lugar, nosso Salvador está conosco, e Ele nos dá tudo que necessitamos. NEle encontramos tudo que alegra nossos corações, que nos satisfaz e dá refrigério. Em Segundo lugar somos disciplinados para príncipes e combatentes, que são suas testemunhas aqui, a pesar de precisarem constantemente confessar suas fraquezas diante do Senhor. A pesar de tudo somos Suas testemunhas, como vimos em Números 22 – 25, os guerreiros do Senhor, testemunhas e defensores da verdade de Sua  glória e seus direitos com perfeito homem e eterno Deus. Nós podemos testemunhar dEle como criador em seu trono (que se tornou o trono da graça para nós), dEle, a quem o Pai sujeitou todo o juízo, e também daquEle que sustenta todas as coisas pelo poder de sua palavra (Hb 1: 3) e portanto também governa agora todo o universo. – Nós podemos testemunhar dEle, diante de quem todos são convidados a dobrar seus joelhos; dEle, diante de quem em breve todo joelho se dobrará, todos que estão no céu, na terra e debaixo da terra, e de quem toda lingual confessará, que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2: 9 – 11).
Mas nosso testemunho confessando Seu nome como Senhor só tem poder real se o tornamos realidade em nossa vida. Quando as pessoas vêem diariamente que a vontade do Senhor é meu único motivo para tudo que faço, isto é uma forte voz para a consciência de todas as pessoas que me vêem, que também elas precisam reconhecer a autoridade do Senhor, dobrar seus joelhos diante dEle e em todas as coisas devem perguntar por sua vontade. Com certeza o Senhor usou muitas vezes este testemunho de crentes para convencer pessoas a se converter. Mesmo que assim não fosse, é um testemunho de Seus direitos como Senhor, que o Pai deseja ver aqui na terra para seu Filho, onde Ele foi rejeitado e crucificado.